sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Tempos Modernos



Este breve causo relatado abaixo dá início a uma bela aula de História sobre Revolução Industrial, Relações capitalistas e uma porção de outras coisas.
Praticamente uma exigência pra qualquer estudante é assistir a obra prima de Charles Chaplin Tempos Modernos, datada de 1936. Este filme trata não só do mundo em crise após o Crack de 1929 como também das relações de vida e trabalho que a intensa industrialização legou para os povos.
Segue um pequeno trecho dessa maravilha do Chaplin.

A Revolução Industrial dentro da Estofaria


Um dia conversando com meu amigo Célio, goleiro do valoroso Tupan Futebol Clube e proprietário da Estofaria Souza, foi me confidenciado a sua dificuldade em encontrar um auxiliar para seu ofício de estofador.
Uma estofaria é como um lugar onde as pessoas que não podem ou não querem comprar um sofá novo podem levar seus belos cômodos para serem recauchutados, ou seja: como a recapagem de pneus, uma estofaria deixa novinho um sofá abandonado, com os braços quebrados (sim, sofá tem braço), espuma desgastada, com o tecido que rasgou de tanto agüentar traseiro escorado pra marmanjo ficar o olhando Faustão.
O processo de modificação de um sofá é simples, embora trabalhoso: 1) o setor de relações públicas recebe o interessado e registra seus anseios. 2) o setor técnico recebe o produto e faz a avaliação: tecido novo, mais esponja, e um reforço na armação de madeira. 3) o setor fazendário avalia os custos do material a ser utilizado, do tempo gasto para realizar o trabalho, do desgaste das ferramentas e da depreciação da estrutura da estofaria durante o trabalho; após isso passa o valor: D$ 700 (setecentos dinheiros). 4) o orçamento chega nas mãos do setor de relações públicas e este repassa para interessado. O meu amigo Célio faz tudo isso sozinho. Ele não sabe que tem esses nomes, mas faz tudo certinho além de ser goleiro do Tupan Futebol Clube, o maior time de Futsal de Tupanciretã.

Célio parece estar na contramão da história, ao invés de se especializar em uma única coisa, ele faz todas, atua em vários setores. Mas talvez seja ele o protótipo do Homem Moderno: versátil, pró-ativo, dinâmico, enfim moderno.
É sabido, ao menos entre nós professores de História, que a Revolução Industrial teve como seu setor mais importante a indústria têxtil, esta que alimenta o trabalho do meu amigo Célio. A história das relações capitalistas mostra que vivemos há muito tempo num processo de especialização das competências e profissões, na qual tudo é mercadoria e, portanto, tem um preço. Assim é com a força de mão de obra, uma mercadoria que tem preço.
Foi nesse meio que tive minhas primeiras atuações no mercado de trabalho, atuando como auxiliar de desmanche (tirando grampos dos sofás que iam ser consertados) e auxiliar de logística (transportando almofadas com minha bicicleta). O preço da minha força de trabalho? D$ 5 por semana. Exploração de trabalho infantil? Não pra mim que fazia isso entre um jogo de futebol e outro.