segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O scret dos desafios sportivos

Tínhamos um bom time. Pastel era o goleiro, um pouco desajeitado, magro e grandalhão, mas assustava pelos seus carrinhos “na bola”. O Lucas jogava na zaga, estilo xerifão, ganhava no grito e no empurrão. Batatinha era um lateral esquerdo de qualidade e tinha um cruzamento certeiro, mas era um pouco lento devido a um atropelamento sofrido (neste triste episódio, além de um pedaço de melancia que comia perdeu também um boné da Kawasaki Ninja... Ele adorava aquele boné). O Pecê era daqueles que não sabia se era destro ou canhoto, na dúvida não escolheu coisa alguma e mal parava em pé, mas era amigo, tinha que participar. Máquina não é nome de gente, mas é como a gente chamava um meio campo de estilo argentino, só parava quando anoitecia. O Renanzinho tinha saído da vizinhança, mas aparecia nos fins de semana para os jogos, era um pouco pequeno e magrinho, mas habilidoso e sabia fugir das pancadas como ninguém. Acho que no ataque jogava o Antônio, meu irmão, não lembro direito, mas a carreira dele foi curta, magrinho e veloz era alvo certo dos inimigos. Eu não sei bem em que posição eu jogava, mas era titular. Não era bem veloz, também não era muito habilidoso, muito menos eficiente na bola aérea. Mas era participativo e se não me falha a memória a bola era minha.
O tradicional oponente, da vila de cima, era comandado pelo Chapolim e pelo Xalex. Adversário bem organizado, até treinador aparecia de vez em quando.

Bom... está anoitecendo e o jogo tem que acabar por hoje.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Apresentando lembranças

Por achar necessário e por uma porção de outros fatores, a partir de agora, pelas próximas semanas, passarei a descrever aqui algumas experiências de minha vida que contam um pouco de minha trajetória até chegar aos dias atuais e ser um formando de Licenciatura em História na leal e valorosa URGUIS.


Parafrasear Belchior dizendo que "eu sou apenas um rapaz Latino-Americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior..." é falar bastante coisa sobre mim, mas é claro que não diz tudo.

Nascer e crescer no interior é um elemento de distinção em relação aos colegas da cidade grande. Ninguém como eu pode falar com tanta autoridade de jogar bola na rua até tarde da noite, atirar de bodoque nos opositores da vizinhança, fazer guerrinha de caça - bunda (armamento artesanal de poder quase letal constituído pela conexão de uma bexiga ou balão com a ponta de uma garrafa pet cortada, ou materiais similares), bater corrida de carrinho de lomba, ir para escola de bicicleta, se apropriar de goiaba em terrenos baldios, desbravar casas abandonadas que com o tempo ficam mal assombradas, desafiar os times da vizinhança pra um jogo em campo que foi beneficiado pelo próprio time, isso aí: enxada na mão, pedaços de taquara ou eucalipto, pregos, martelos e mãos à obra.

Fazer seu próprio campo de jogo é realmente algo que poucas pessoas experimentam, podem ou necessitam fazer. Na minha infância era necessário, a gente podia, e era uma baita experiência. Primeiro é preciso retirar os maiores obstáculos do pretendido terreno: as pedras grandes (que poderiam levar alguém para o Brasilina – o hospital da cidade), os cucurutos ou morrinhos artilheiros que poderiam atrapalhar o andamento do espetáculo e os indesejáveis excrementos que as vacas do Seu Ernesto sempre faziam questão de deixar no território de atuação dos goleiros. Depois disso o próximo passo era fazer as goleiras; bah, campo que tinha goleira com travessão era coisa fina. Normalmente as traves se esfacelavam nos primeiros bicudos certeiros e eram substituídas por roupas emboladas ou pelas pedras grandes antes retiradas. Juiz não tinha, regra eu acho que também não tinha, uniforme muito menos. O fim do jogo era quando anoitecesse ou quando algum companheiro resolvesse praticar outros esportes no campo de futebol, como judô ou pedra ao alvo. Ah, também se a bola caísse na casa que não devia... era fim de jogo na certa.

Crescer no interior tem dessas coisas boas, mas também nos coloca em algumas situações não muito confortáveis. É importante salientar que quando falo em interior não me refiro a Santa Cruz, Caxias ou Novo Hamburgo, cidades com toda estrutura de cidade grande. A cidade que cresci e que trago belas lembranças é Tupanciretã, distante mais de 6 horas de ônibus da capital. Portanto, conhecer cinema aos 17 anos, presenciar um jogo de futebol em um grande estádio aos 18, ter que viajar duas horas de ônibus até Santa Maria para comprar calçados ou brinquedos sempre foram coisas das mais normais por lá. Nem tudo são flores, apesar das flores de lá parecerem mais bonitas....